Chapter 5: Live bait, untouched souls.
Todos os recrutas foram tratados com poções de baixo nível para restaurar sua saúde. Alguns estavam murmurando entre si, ainda visíveis com a demonstração de poder que tinham testemunhado.
— Ela me empurrou apenas com o punho da adaga, e senti uma pressão enorme no peito... Se não fossem aquelas poções, eu ainda estaria com dor agora!
Outros estavam apenas resmungando, tentando entender como um S-Rank poderia estar em um nível tão inatingível. Era uma diferença desumana. Os médicos andaram entre os recrutas, até pararem em frente ao corpo inconsciente de Satsu. Um deles franziu a testa e olhou para o colega ao lado.
— podemos levá-lo ao hospital na sede da irmandade?
O outro olhou para ele com desdém e revirou os olhos.
— Claro que não, seu idiota. Olhe para o distintivo dele. Rank F. Dê a ele esta poção diluída e mande-o para aquele banheiro... O mesmo onde jogamos equipamentos quebrados e móveis velhos.
Sem nenhum cuidado, joguei Satsu em um colchão fino e o deixei ali, sem nem mesmo verifique se ele acordoia. Ali, em meio ao cheiro de madeira velha e poeira, Satsu dormia profundamente.
Satsu inconsciente no chão, envolto pelo cheiro agridoce de madeira envelhecida e poeira. Sua mente oscilava entre sonhos confusos e uma sensação persistente de um peso esmagador em seu corpo.
Quando os primeiros sinais de consciência apareceram, a dor veio como um trovão. Um gemido escapou de seus lábios enquanto ele se movia, tentando se sentar.
Suas pernas latejavam com uma dor aguda, como se fossem torcidas e espremidas por forças invisíveis. Seu peito queimava com uma pressão insuportável, dificultando a respiração.
— O que... aconteceu comigo?" ele murmurou, com a voz rouca.
Ele se apoiou na parede fria para se levantar, cada movimento acompanhado por uma nova onda de dor. Satsu sabia uma resposta, mesmo que não queria admitir: a pressão mágica avassaladora que Aiko havia liberado durante o treinamento.
Para aventureiros mais fortes, isso era apenas um desafio intenso, mas para Satsu, fraco em mana e classificado como Rank F, era como ser atingido por uma tempestade invisível. Seu corpo simplesmente não conseguia suportar a carga.
Cambaleando, ele respirava fundo, tentando ignorar o desconforto. Outra necessidade urgente gritou em seu estômago: fome.
Satsu agarrou seu abdômen com a mão, sentindo-se fraco. Ele precisava de comida.
Com dificuldade, ele seguiu pelos corredores da sede da Brotherhood of the Phoenix até o refeitório. O aroma convidativo de carnes grelhadas, pães frescos e macarrão instantâneo pareceu aumentar sua fome, mas, ao se aproximar da entrada, ele encontrou um obstáculo.
— Ei, espere um minuto. — Um dos funcionários na entrada cruzou os braços, bloqueando o caminho de Satsu com um olhar severo.
— Você não tem permissão para entrar.
Satsu franziu a testa, confuso.
— Mas… eu sou um recruta. Tenho direito a uma refeição.
O funcionário bufou com desdém.
— Só se você for um recruta que valha a pena. Rank F? Você deveria comer sobras, é isso.
Satsu sentiu seu rosto esquentar de vergonha e frustração.
— Isso não é justo… — ela disse, tentando manter a calma.
Antes que ela pudesse continuar, uma voz familiar cortou o ar.
— Algum problema aqui? — Haruto apareceu ao lado de Satsu, sua postura confiante e seu olhar sereno.
O balconista revirou os olhos.
— Haruto, você deveria escolher melhor seus companheiros. Esse pirralho aqui é um inútil Rank F.
Haruto deu um leve sorriso, mas seus olhos brilhavam com determinação.
— E ele é um aventureiro como qualquer outro. Ele tem tanto direito quanto eu. Você vai nos deixar passar, não é?
O balconista hesitou, mas a presença confiante de Haruto era difícil de ignorar. Com um bufo irritado, ele se afastou.
— Só porque é você, Haruto. Mas não se acostume com isso.
Haruto deu um tapinha amigável no ombro de Satsu.
— Vamos lá. Não adianta discutir com pessoas assim.
Enquanto caminhavam pelo refeitório, Satsu não pôde deixar de se sentir grato.
— Obrigado, Haruto. Mais uma vez.
Haruto sorriu.
— Estamos juntos nisso, Satsu. Não deixe esses caras te derrubarem. Todo mundo tem um começo, e o seu não precisa ser definido pelo que eles pensam.
O refeitório estava movimentado, com aventureiros de todas as classes ocupando mesas longas. O cheiro da comida era quase inebriante para Satsu, que mal podia esperar para comer algo decente. Haruto o levou para uma mesa livre, mas antes que pudessem se sentar, um grupo de aventureiros em uma mesa próxima começou a acenar animadamente para Haruto.
— Ei, Haruto! Venha aqui! — um deles chamou, sorrindo largamente.
— Finalmente apareceu, hein? Já apostamos que você não conseguiria passar pela missão de hoje! — outro brincou, fazendo os outros rirem.
Haruto riu baixinho.
— Me dê um segundo. Deixe-me cuidar do meu amigo aqui primeiro.— Satsu observou curiosamente enquanto o grupo mantinha uma atmosfera relaxada, claramente em sintonia com Haruto. A cena trouxe um breve alívio à tensão que ele carregava desde o treinamento.
Haruto se virou para Satsu com um sorriso encorajador.
— Vamos comer alguma coisa. Depois eu te apresento aos outros.
Satsu assentiu, sentindo que, apesar de todas as dificuldades, ele não estava mais sozinho.
O faminto Satsu não perdeu tempo em pegar uma pilha generosa de comida: carne, pão, frutas e duas bebidas equilibradas precariamente na bandeja que ele carregava com as mãos tremendo de ansiedade. Haruto assistiu à cena incrédulo.
— Ei, Satsu, vamos com calma, cara! Você vai abrir seu próprio buffet ou é só isso?" ele disse, soltando uma risada divertida.
Satsu, com um olhar envergonhado, tentou se justificar:
— Estou com fome, Haruto. E não sei se terei outra chance como essa...
— Só não se afogue antes da sobremesa — brincou Haruto, dando-lhe um leve tapinha no ombro.
Satsu lutou para equilibrar sua comida e seguiu Haruto até uma mesa no centro do refeitório, onde um pequeno e animado grupo de aventureiros acenava entusiasticamente.
— Haruto! Finalmente! Pensei que você tivesse escapado depois daquela missão insana!" disse Akira Fujiwara, uma feiticeira de cabelos curtos com um olhar travesso. Ela riu alto, claramente extrovertida e cheia de energia.
Haruto sorriu, cumprimentando-a com um gesto amigável.
— Não é todo dia que sobrevivemos a uma missão sem virar pó. Trouxe companhia. Pessoal, este é o Satsu.
Os membros do grupo se apresentaram com entusiasmo.
— Akira Fujiwara, feiticeira da terra e especialista em tremores.— Ela piscou para Satsu, com um sorriso travesso no rosto. — Espero que você tenha paciência com um rank F.
Satsu sorriu timidamente.
— Não se preocupe. Eu também sou um rank F.
— Ah, então estamos no mesmo barco! — Akira riu.
Daichi Tanaka, um homem grande, forte, de cabelos prateados, com uma espada apoiada ao lado de uma maçã mordida, assentiu vigorosamente.
— Eu sou Daichi Tanaka, classe Guerreiro, rank E. E se você tiver azar, eu te empresto um dos meus amuletos da sorte. — Ele tirou um pequeno e tosco amuleto do bolso.
— Elas funcionam? — Satsu perguntou curiosamente.
— Veja você mesmo. — Daichi jogou o amuleto para Satsu, que o pegou no ar, examinando o objeto com uma sobrancelha arqueada.
Haruto riu.
— Não caia nessa, Satsu. Esses amuletos falsos que ele faz são horríveis.
— Ei, não é horrível! É uma arte rudimentar. — Daichi fingiu ofensa. — Você só tem mau gosto.
Todos na mesa riram.
As apresentações continuaram.
— Hana Kobayashi, maga de fogo, Rank F. — A jovem mulher com cabelo curto e ondulado vermelho disse dramaticamente. — Talvez eu seja sua amiga se você sobreviver à próxima sessão de treinamento. E você sabe... você é realmente meio bonitinha.
Satsu engasgou levemente.
— Que honra... eu acho? — ele respondeu, desconcertado.
Yumi Sato, uma mulher de olhar gentil, sorriu calorosamente.
— Yumi Sato, curandeira, Rank E. Você comeu alguma fruta hoje? Está hidratada? Eu estava observando você e... parece que você foi atropelada por um caminhão.
Akira riu alto.
— Ei, Yumi, deixa o cara em paz! Você sempre quer cuidar da gente como se fosse nossa mãe! Relaxa um pouco.
Yumi cruzou os braços, fazendo uma expressão de falsa indignação.
— Humph! Vocês não cuidam nem um pouco de si mesmos. Alguém precisa ficar no comando por aqui.
Satsu riu.
— Obrigada pela preocupação, Yumi.
Ela retribuiu com um sorriso fofo.
— Kaito Nakamura, invocador, Rank F. E este é o Hungry One. — O jovem tímido apontou para um furão esperto que estava espiando para fora do seu bolso. Era preto com detalhes roxos, o resultado de uma invocação.
— Ele tem esse nome por algum motivo? — perguntou Satsu.
Kaito suspirou.
— Porque ele come tudo. Incluindo meus biscoitos de animais.
Faminto, ele cheirou o ar e tentou pular na bandeja de Satsu, mas Kaito o segurou a tempo.
— Ei, controle-se, rapaz." Haruto riu. — Este furão tem mais energia do que alguns aventureiros por aqui.
Enquanto todos se acomodavam e começavam uma conversa animada, Akira de repente deu um tapa na testa.
— Ah, meus biscoitos! Você me lembrou, Kaito! Eu os trouxe para você! Passei a noite inteira fazendo-os. — ela disse, colocando a mão no bolso.
Ela tirou um pacote amassado, com migalhas escapando pelos cantos.
— Bem, eles não sobreviveram intactos... — ela disse, envergonhada.
Yumi riu.
— Nem biscoitos resistem a você, Akira.
Haruto acrescentou, divertido:
— Hahaha, você sempre os esmaga.
Todos riram quando Akira tentou oferecer os pedaços quebrados.
— Alguém quer? Eles ainda estão bons!
— Eu passo — brincou Daichi. — Prefiro comer algo inteiro, olha como são pegajosos.
A atmosfera leve e relaxada fez com que Satsu se sentisse, pela primeira vez, parte de algo maior. Ele observou o grupo com admiração. Desajeitados como ele, mas unidos por uma camaradagem genuína.
— Vocês são muito divertidos — disse Satsu, sorrindo.
Haruto sorriu levemente.
— Bem-vindo ao grupo, Satsu. Eu estava pensando em recrutá-lo para se juntar à nossa guilda. Os Ebony Wings estão sempre abertos ao público.
Satsu sorriu ainda mais, sentindo que, apesar das dificuldades, talvez estivesse no lugar certo.
Kaito olhou para Satsu com curiosidade inocente, mas sincera.
— Então, Satsu? Quais são suas habilidades?
Satsu pausou, desconfortável com a pergunta. Ele encarou o grupo, todos esperando por uma resposta, e esfregou a nuca em constrangimento.
— Não faço ideia. Eu... eu já deveria saber? Hoje é meu primeiro dia.
O silêncio caiu sobre a mesa como um cobertor pesado. As expressões relaxadas ficaram sérias. Haruto franziu a testa levemente, enquanto Yumi desviou o olhar com um suspiro resignado.
Todos ali sabiam o que isso significava: os novos recrutas geralmente passavam por treinamento básico para entender suas habilidades e sobreviver nas missões.
Mas eles também sabiam como a Irmandade tratava os recrutas de patente F, com absoluto desprezo.
Era um sistema cruel: jogá-los direto na batalha, despreparados, deixando-os morrer como isca ou mera estatística.
Haruto quebrou o silêncio, sua voz cheia de amargura controlada.
— Eles não te explicaram nada? Você não teve um instrutor?
Satsu balançou a cabeça.
— Não. Eles me disseram para aparecer aqui e... é isso, eu acho.
Akira bateu a mão na mesa, com o rosto franzido.
— Isso é ridículo! Eles sempre fazem isso conosco! Como se fôssemos descartáveis!
Daichi suspirou profundamente.
— Não descartável, Akira. Isca viva. Eles não querem treinar recrutas que não dão feedback imediato.
Yumi colocou a mão no peito, visivelmente desconfortável.
— E então falam em proteger a irmandade como se fosse uma honra...
Haruto olhou para Satsu com firmeza.
— Você não é descartável. Nós vamos te ajudar. Você vai descobrir suas habilidades e aprender a lutar.
Satsu sentiu um calor reconfortante com essas palavras. Antes que ele pudesse responder, Hana perguntou:
— De onde você é, Satsu?
Ele hesitou por um momento, mas respondeu francamente:
— De Soraoka.
O grupo trocou olhares imediatamente. Soraoka era uma das comunidades mais marginalizadas, uma favela esquecida na periferia da região, onde a pobreza e a exclusão social eram constantes.
Aqueles que vinham de lá eram muitas vezes tratados com preconceito e desconfiança.
Daichi coçou a cabeça, desconfortável.
— Então é por isso que te trataram daquele jeito...
Yumi falou suavemente, com tristeza nos olhos.
— E também explica por que você levou tanta comida. Você provavelmente não tinha muito o que comer lá atrás, não é?
Satsu engoliu em seco, a vergonha queimando seu rosto.
— É... nem sempre tem comida suficiente para todos. Na verdade, não lembramos como é ter uma refeição decente há anos.
Hana estalou a língua, visivelmente irritada.
— Esse sistema repugnante sempre marginaliza aqueles que já têm menos. Mas sabe de uma coisa, Satsu? Você não está mais sozinho.
Hana pegou uma pequena cesta e colocou-a sobre a mesa.
— Aqui, pegue isso. Tem pão fresco e algumas frutas. Leve com você.
Akira fez o mesmo, pegando uma bolsa cuidadosamente amarrada.
— Pegue este também. Tem biscoitos caseiros... Prometo que não vão quebrar dessa vez.
Daichi sorriu e empurrou um de seus amuletos.
— Pegue essa também. Pode não funcionar, mas é do coração.
Satsu olhou para os presentes empilhados na sua frente, sua garganta apertada. Lágrimas ameaçaram cair, mas ele piscou rapidamente, tentando se controlar.
— Eu… Eu não sei o que dizer. Obrigada, de verdade. Você não precisava fazer isso.
Haruto sorriu gentilmente.
— Nós cuidamos uns dos outros, Satsu. É assim que sobrevivemos.
Akira cruzou os braços, tentando parecer durona.
— E se precisar de mais comida, pode contar comigo. Não posso prometer que os biscoitos não vão quebrar no caminho, mas ainda assim…
Hana deu uma risada suave.
— E não se esqueça: sobreviver é só o começo. Você ainda vai brilhar, Satsu.
Satsu respirou fundo, sentindo o peso do preconceito se dissipar diante da inesperada solidariedade desses novos amigos. A atmosfera, que antes parecia sombria e pesada, agora pulsava com calor e esperança.
Ele é gentil, um sorriso sincero e aliviado.
— Obrigado a todos. Eu realmente preciso disso.
Haruto pediu a mão, como se estivesse pedindo um brinde.
— Pará como Ebony Wings. Unidas até o fim.
Todos repetiam em coro, com sorrisos radiantes:
— Unidos até o fim!